Nós acreditamos nos ressuscitado! Ele vive!
Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
A liturgia deste Segundo Domingo da Páscoa põe em relevo o papel da comunidade cristã como espaço privilegiado de encontro com Jesus ressuscitado. Este domingo, que no passado era chamado de domingo “in albis” – é o Domingo da Divina Misericórdia. Contemplemos, neste domingo, as manifestações do Senhor Ressuscitado alegrando e reanimando os discípulos ainda amedrontados pela Paixão e pela Cruz.
O Evangelho(Jo 20,19-31) sublinha a ideia de que Jesus vivo e ressuscitado é o centro da comunidade cristã; é à volta d’Ele que a comunidade se estrutura e é d’Ele que ela recebe a vida que a anima e que lhe permite enfrentar as dificuldades e as perseguições. Por outro lado, é na vida da comunidade (na sua liturgia, no seu amor, no seu testemunho) que os homens encontram as provas de que Jesus está vivo. “Ao entardecer daquele dia”, hora do crepúsculo, quando a luminosidade dá lugar à penumbra e somos envolvidos pelo silêncio da noite, os discípulos desalentados, temerosos de que tudo tivesse terminado na cruz, estavam reunidos num local de portas fechadas. O medo e o desânimo preenchiam os espaços.
Jesus, no Domingo da Ressurreição, se manifesta a seus discípulos reunidos e lhes comunica sua paz. O primeiro dia da semana sinaliza o novo tempo que se inicia com a ressurreição de Jesus. Embora as portas estejam fechadas o Ressuscitado entra e fica no meio dos discípulos. Já não há mais barreiras que o impedem de estar no centro da comunidade. Oito dias depois, convida Tomé a tocar suas mãos e seu lado, tornando-o também testemunha da Ressurreição.
Os discípulos se alegrem em ver o Senhor, e o medo é dissipado com a saudação de paz. A paz é o primeiro dom do Ressuscitado. Cabe a cada discípulo, agora, ser também portador da paz.
Jesus soprou sobre eles o Espírito Santo. O sopro divino recorda o dia da criação. Em Jesus, o Pai plenifica a criação com o vínculo perfeito do amor, que é o Espírito. A comunidade que recebeu a brisa do vento sagrado jamais se deixa paralisar ou acomodar.
A reunião litúrgica da Igreja é um lugar privilegiado para nos encontrarmos com o Senhor Ressuscitado. O Domingo, primeiro dia da semana, é nossa Páscoa semanal e dia por excelência da reunião dos discípulos de Cristo. Em cada liturgia, Ele nos comunica sua paz e nos convida a tocarmos seu Corpo vivo.
A segunda leitura(Ap 1,9-11a.12-13.17-19) insiste no motivo da centralidade de Jesus como referência fundamental da comunidade cristã: apresenta-O a caminhar lado a lado com a sua Igreja nos caminhos da história e sugere que é n’Ele que a comunidade encontra a força para caminhar e para vencer as forças que se opõem à vida nova de Deus.
A primeira leitura(At 5,12-16) sugere que a comunidade cristã continua no mundo a missão salvadora e libertadora de Jesus; e quando ela é capaz de o fazer, está a dar testemunho desse Cristo vivo que continua a apresentar uma proposta de redenção para os homens.
Muitas vezes, como Tomé, nós também duvidamos. Tomé, no entanto, ensina-nos a professar, com todo o nosso ser, a fé naquele que venceu a morte: “Meu Senhor e meu Deus!”. Diante da insegurança, do medo, da fome, da guerra, da insegurança, do desemprego, somos, enquanto Igreja, chamados a dar autêntico testemunho de esperança, com palavras e gestos. O Ressuscitado desperta nossa coragem e seja nossa força e alegria no caminho do seguimento cristão. Nós acreditamos no Ressuscitado! Ele vive!
Neste Domingo – o da Divina Misericórdia – somos convidados, também, a viver a misericórdia de forma concreta, colocando-nos à disposição dos que sofrem as dores da carne, bem como dos que padecem de dores da alma.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/nos-acreditamos-no-ressuscitado-ele-vive/